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do corpo

VERSOS DE CARNE, CORAÇÃO E SANGUE

 

Carne

I


as lágrimas
de saliva
escorrem sedentas
pela pele
os joelhos abrem-se lentamente
e anunciam o grito
no fundo quente
do deleite em silêncio

contorcer o corpo
num arrepio


XIII


RETRATO ERÓTICO

ansiada silhueta nua das fontes
desejo

*

campo de girassóis despidos
que parecem aplaudir

*

pérolas desfolhadas
em ostras de silêncio

*

sombra descalça
num sonho vermelho


XXVI


até que o silêncio se esconda
no nascer do fogo

até os gemidos cintilarem
na carne suada

até que um pássaro
saia a voar dos lábios para os dedos

até que derretam todas as correntes
cordas e algemas

até a distância
ser uma gota de orvalho
numa pétala de rosa azul
Coração

XXX


tocar brevemente em ti
é como se beijasse longamente
a única ave do planeta

é fechar os olhos ao silêncio

expulsar a floração do medo
e acender o fogo no coração

amo os versos nos teus olhos

mesmo sem saber como se dizem
digo-os enquanto forem sol


XXVI


estavas ainda mais bonita. todos os versos alguma vez escritos
significam
que estavas ainda mais bonita.
os amplos relâmpagos de brilho
no teu sorriso, nesse dia, abriram fogueiras maiores.

estavas ainda mais bonita. cada onda no mar, cada duna no deserto.
cada fonte de água fresca nos teus lábios.
cada flor que nasce na terra. o caule. as pétalas.
és bonita.

comecei a escrever com a intenção de te dizer que és bonita
o mesmo número de vezes que, num dia, recordo o quanto és bonita.
depois achei que ficaria cansativo e decidi dizer-te apenas: quero-te!

és bonita.

quando me dás a mão, quando somos tronco na mesma árvore,
sinto terramotos no corpo, mas
isso não é só por seres bonita.
isso só causaria arrepios.
é por seres a mulher mais bonita do mundo e
estares a tocar-me.

já sei que estás a dizer que nem por sombras o és.
pergunto-te:
o mar diz-se grande?
o céu sabe-se azul?

Sangue

XXXV


como tiros no peito:
devastação do sangue,
angústia – clara solidão.

inominável e longa escuridão,
silente e lentamente
curvada.

as imagens estrangulam o sonho com as mãos,
como ecos em igrejas vazias,
cantam o segredo da insónia,
gritam o brilho quente dos fogos.


XXXVI


quando partes
as paredes
dobradas
obrigam ao silêncio

os insetos
mais destemidos
alimentam-se

O que acha disto?