Início Autor Livros Trabalho não publicado Contacto Outros Autores Colaborações Prémio Nobel da Literatura Estatíticas de Votação
Autor Livros Trabalho não publicado Contacto Outros Autores Colaborações Prémio Nobel da Literatura Estatíticas de Votação

O ÚLTIMO HOMEM A FALAR UBYKH

Ingmar Heytze

Por vezes, no decorrer dos últimos meses,
ele pensava numa palavra
e tentava lembrar-se da árvore ou da espécie de sapo
que ela nomeava:
a verdadeira árvore, sapo ou emoção
e não o sinónimo numa outra língua,
a língua que lhe levara os filhos e a luz da montanha,
os túmulos que ele varria e cuidava, as canções dos casamentos.
Enquanto anos de silêncio se conjugavam à soalheira
ele ficava no quintal
e sussurrava o nome de um pássaro
na sua língua materna,
enquanto memórias de neve e dias de feira,
das mãos do seu pai, do odor a tamarindo
se retiravam em palavras puídas:
o azul da infância dobrado como um lençol
e arrecadado.
Nada do que ele dizia era recordado, nada do que fazia
facto ou lenda,
na praça da aldeia.
Contudo reteriam mais tarde a palavra
que disse nessa manhã, pouco antes de morrer:
um nome para a morte, talvez,
ou para a erva dos prados,
ou, surgida à beira do pensamento,
uma outra palavra que havia quando ele era pequeno,
uma palavra raramente utilizada, embora existisse
para tudo o que ninguém conseguia recordar.

 

 

 

 

Novo Comentário

Nome (Deixar em branco se não quiser que o seu nome apareça)


Comentário

Carateres restantes: 1000