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Fevereiro

Frank X. Gaspar

O meu padrasto a chegar a casa
vindo dos molhes onde foi receber o subsídio de desemprego
e a fumar Pall Malls sentado no miolo gasto
da poltrona, a sua cara tornando-se flácida
coberta por uma barba que agora cresce cinzenta,
a sua vida arrastando-se, sem razão de ser,
de quando em quando um desinteressado jogo de damas
em que nunca me apetecia participar,
mas sobretudo o seu modo de beber café numa
chávena lascada lamentando-se e a mandar-me
uma vez por semana até aos barcos de pesca
com um balde pedir a homens de melhor sorte
algum peixe, e sempre
as suas caras batidas pelos ventos olhando
para o convés molhado evitando-me
enquanto faziam subir os baldes cheios até nós,
aquelas semanas de peixe e ovos e cebolas
e somente água fria das torneiras,
o sol nunca se mostrando acima
do telhado do alpendre, os estorninhos batendo asas
para acabarem na neve dura do quintal,
as paredes húmidas murmurando entre si
quando pensavam que ninguém as ouvia, chapéus
e lenços atentos num prego ao pé da porta,
e nós sem razão para nos vestirmos e nenhum sítio para onde irmos.

 

 

 

 

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