Ouvíamos da cozinha o falar do Pico
onde os vivos se sentavam a enrolar
cigarros nos seus dedos grossos,
as garrafas de cerveja
à sua frente na mesa
onde se sentavam e diziam "verde",
green, como as costas
de certos peixes ou os pescoços
de pequenos melros que sugavam
flores desabrochando na primavera
ao longo das paredes caiadas de branco:
caminhos verdes e de barro, diziam eles,
e os paredões ondulantes
pincelados de cal branca
e quantos baús
no porão de um navio,
que talheres, que panos, quantos
rosários e velas para a Virgem,
e as orações para os velhos mortos
deixados para a eternidade nos montes húmidos
(os montes verdes, e à noite
a luz das candeias de azeite
e por vezes o lamento duma viola
e os moinhos brancos sobre
o exíguo chão dos mortos)
e tudo isto enquanto se
preparavam para dormir por detrás
dos lábios roxos e olhos pesados
nesta terra distante
consolados somente pelo modo como a lua
e as marés se posicionam
caminhando para outras escuridões
como quem não quer mais regressar.
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