Abro a porta, entro na varanda. Noite.
Nos quintais vestígios de pombos. Neve
que jaz ao acaso. Um gato sob um arbusto
sacode o pêlo, embosca uma sombra.
A lua descansa sobre um telhado. Cortada por vozes
que cantam. Al Jazeera.
Roupa enregelada pendurada num silêncio de morte.
A camada branca ocupa tudo sem vergonha, faz amizade
com ombreiras pálidas, grades de varandas, antenas parabólicas.
Também eu pertenço aqui. Sozinha. Porém,
rodeada de gente e animais.
Porém e porém. Isto é tão inverno, tão noite
como uma noite de inverno. Aspiro. Cheiro. Lixo.
Humidade. Cozinha. Pêlo de gato.
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