De bruços na margem afastei
Os juncos, para deixar que as mãos
Entrassem na água sem a enrugar
E para as inclinar lentas no sentido da corrente
Até onde ela estava, leve gavinha
No seu fluido sonho sensual.
Senhor sem corpo da criação
Debrucei-me por instantes sobre ela
Tomando o gosto à minha própria ausência,
Expandindo os sentidos em câmara
Lenta, a pausa fotográfica
Que precede a acção,
Enquanto a curva das minhas mãos
Ia ondulando sobre o seu corpo
Ela irrompeu, com visível prazer.
Estava tão irrealmente perto
Que podia contar-lhe cada pinta
Mas sem a cobrir de sombra, até que
As palmas das mãos se tornaram armadilha
Sob as guelras que latejavam levemente.
Depois (revestindo a minha própria forma
Ampliada, a cavalo nas águas)
Agarrei-a. E ainda hoje
Saboreio o seu terror nas minhas mãos.
Nome (Deixar em branco se não quiser que o seu nome apareça)
Comentário
Carateres restantes: 1000