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UMA LÍNGUA ENXERTADA

John Montague

(Muda,
em sangue, eis a cabeça
decepada sufocando
ao falar outra língua —

Como num
sonho longamente reprimido
a provação gaguejante e
confusa que me cabe)

Uma criança
irlandesa chora na escola
ao ter de decorar o seu Inglês.
De cada vez que erra

O professor
grava-lhe mais um sinal
na coleira de pau
que traz ao pescoço

Como o chocalho
de uma vaca, a peia
de uma cabra extraviada.
Tartamuda, tropeça

Cheia de vergonha
nas sílabas mudadas
do seu próprio nome:
regressa triste a casa

Para achar
a pedra enegrecida
da lareira paterna
cada vez mais estranha:

Nas choupanas
e no campo, ainda
falam a velha língua.
Impossível saudá-los.

Aprender
uma segunda língua,
tão dura humilhação
como nascer duas vezes.

Décadas depois
a fala do neto da criança
tropeça ainda nas sílabas
perdidas de uma velha ordem.

 

 

 

 

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