Os afogados do verão
Os que morrem no outono
Os que o inverno gelou
Quem não pôde aguentar mais primaveras
Mais os sinistrados de todo o ano
Ganharam bem do tempo a morte.
Tu que continuas a pisar
Cada dia esse caminho
Cada dia igual e sempre diferente
À cabeça a encardida malga
Da sopa dos pobres que é dada
Não já por caridade nem rotina
Mas como ritmo ordenado
Fado dos tempos das estações da vida,
Tens bem mais alta sorte heróica:
Pagas maior vida
Vives cada dia a morte
Sem que sequer te importe
Mais que a aresta viva
De cada pedra a evitar
No sabido caminho
Igual ontem, hoje e amanhã.
Assim constróis o lixo suburbano
Donde subirão um dia
O que hão-de ser «os bairros novos
Da progressiva cidade»
Nos discursos municipais.
Os mortos dos jornais
E tu que nunca lá irás parar
Abrem as covas –
Para vós elas se fazem. –
Quem serão os vivos?
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