Como se de pé, junto a um carro queimado
vendo o próprio corpo amassado sobre o volante –
Hoje é como um sábado banal de outubro
mas pertence a outro calendário.
Eu pareço atirado para fora da minha vida
tropeçando para dentro da minha vida.
Os mesmos áceres e freixos insubstanciais.
A mesma neblina com as mesmas promessas.
E a relva reivindica o peso de nossas pegadas.
Mas nós nunca aqui estivemos antes.
Escavando furos para bolbos de tulipa, vês
a terra a ser criada sob a pá.
Enquanto desligo a água para o inverno
e oiço o gotejar de água pela primeira vez.
Gralhas de um ano apagado
insistem, insistem
e persuadem o campo para nova tentativa
apenas o brilho recém-arado ainda.
Palavras como "cronologia" e "explicação"
são ferramentas enferrujadas que coloco no barracão.
A razão pode apelar a um tribunal superior.
A outra vida
com as estradas que nunca percorremos
deve ter existido desde sempre
a um braço de distância
com o mar retumbando junto ao mar –
mas não para ele que lhe estendeu a mão.
A palavra é graça.
O vento vira
além do que ainda está latente
e os olhos aprendem que o fumo pode picar:
a vida que não escolhi
escolheu-me subitamente.
E eu estou não escrito.
Escreve-me.
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