Estranho sentimento, a inveja. E, contudo, tão infiltrado nas relações humanas, tão abrasivo da vida interior, tão capaz de fazer em cacos ambientes (familiares, de trabalho, de amizade). Muitas vezes a inveja é olhada com impotência, como se não houvesse nada a fazer, ou até condescendentemente, porque a verdade é esta: qualquer um de nós, em alguma ocasião, não está livre de incorrer nela.
Aquele que inveja reveste o seu objeto de uma admiração que tem pouco a ver com a realidade. Imagina que aquilo que o outro possui (inteligência, sucesso, beleza, bens, o que seja) lhe confere uma espécie de omnipotência, o coloca a salvo da fadiga de viver, da sua turbulência e dor. A desproporcionada felicidade que sonhamos que há nos outros obsidia-nos, e essa admiração adoecida é experimentada como uma perda pessoal e uma injustiça, numa modalidade tão avassaladora que suscita uma ânsia irreversível de destruição, de cancelamento do outro. A inveja é o sentimento disruptivo em relação a outra pessoa que possui ou desfruta algo desejável - e o impulso do invejoso é eliminar ou estragar o que pensa ser a fonte dessa alegria. O outro deixa de ser um parceiro e torna-se um rival. Deixa de ser uma existência autónoma e diferenciada para andar, na maior parte dos casos sem saber, enredado nos dramas, ficções e combates fantasmáticos do eu. Deixa de constituir a possibilidade criativa de um encontro para viver capturado num ressentimento que invade tudo de mesquinhez e sombra.
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