Um dedo a bordo aponta
a neblina sentada, sustentada
sobre o topo do monte.
O céu está todo azul, com excepção
daqueles trapos brancos, como roupa
de alguém que passou por uma planta
com espinhos e não se acautelou.
É uma espécie de água altaneira,
evadida do rio,
que ora entremostra ora esconde
fragadas, pinhal, terra
arroteada.
Sim, concedo,
é muito sugestivo.
Mas, cansado de pairar
nestes transes de lirismo
que me escaldam sem me purificar,
prefiro a água propriamente dita:
água com peso,
esta boa água, sólida, palpável,
que, poupando-me a pele,
me humedece as entranhas
(para não falar dos olhos,
mas isso é outra história)
- e à flor da qual se repete
a neblina do monte.
Ou não fosse o rio um espelho
antes de rio.
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