As mentiras que eu contava,
enquanto crescia
luminosa, quase-branca,
muito clara, ossos rubros
num lugar de negros,
eram só piedosas mentiras.
Eu podia facilmente dizer à malta branca
que vivíamos na alta da cidade,
não naquela área cor-de-rosa e verde
de vergonhosas cabanas e tiroteios
ao longo do caminho. Podia agir
como se os meus vestidos caseiros
tivessem saído directamente da vitrine
da Maison Blanche. Podia até
ficar calada, deixar-me estar,
como daquela vez em que uma miúda branca
(apertando-me a mão) disse, Agora
temos três como nós nesta classe.
Mas paguei por isso de cada vez
que a Mamã descobriu.
Ela punha-me as mãos em cima,
depois lavava-me a boca
com sabão de Marfim. Isto
é para purificar, dizia ela,
e limpar a tua língua mentirosa.
Acreditando nela, eu engolia espuma
pensando que ela trabalharia
de dentro para fora.
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