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UM DITADOR FAZ A BARBA

Nuno Rocha Morais

Ao príncipio, é apenas um córrego
Em solo feroz, acicatado,
Mas também uma ternura no dorso da fera
Que, em aparência, se deixa possuir
Pela metamorfose da cordura.
A lâmina protagoniza uma estação -
Ao espelho, tabuleiro cósmico,
Persegue todos os vestígios
Da anterior.
Há uma vegetação em fuga
De cardos e cerdas, por entre espumas.
Os poros são agora um solo arável, macio,
E o rosto emerge como uma civilização.
Todas as manhãs, ao fazer a barba,
Há este prazer da tirania
Na matança dos inocentes,
Num massacre de camponeses.

 

 

 

 

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