Ele fez uma linha no quadro,
um traço negro da direita para a esquerda
a descer e recuou
para perguntar, sem olhar para ninguém em particular
como de costume: "O que é que eu fiz?"
Do fundo da sala Freddie
exclamou: "Quebrou um pedaço
de giz." O senhor Degas não sorriu.
"O que é que eu fiz?" repetiu.
Os alunos mais inteligentes
concentraram o olhar nas escrivaninhas
excepto Gertrude Bimmler, que levantou
a mão antes de falar. "Senhor Degas,
o senhor criou a hipotenusa
de um triângulo isósceles." Degas meditou.
Toda a gente sabia que Gertrude não podia
estar errada. "É possível,"
precisou ainda Louis Warshowsky,
“que tenha começado a representar
o telhado de um celeiro." Lembro-me
de que passavam exactamente vinte das
onze, e eu pensei que na pior das hipóteses
isto continuaria por mais quarenta
minutos. Era o inicio de Abril,
a neve não tinha ainda derretido nos
pátios do recreio, os olmos e o ácer
bordejando passeios rachados
tremiam com o vento novo, e ocorreu-me
que antes que me desse conta estaria
a caminho da loja de doces
para comprar um Milky Way. O senhor Degas
enrugou os lábios e a aula
acalmou até que o braço longo
do relógio se moveu para o vinte e um
como que em cumplicidade com Gertrude,
que acrescentara confidente: "O senhor começou
a separar o escuro do escuro."
Voltei-me a pedir ajuda mas agora as
árvores resistiam e tremiam e eu
percebi que isto podia durar eternamente.
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