E tu aonde vais?
Se ali já só há fumo e fogo!
- Ficaram lá quatro crianças,
vou buscá-las!
Como é possível
assim de repente
desprender-se de si próprio?
Da ordem do dia e da noite?
Das neves do ano que vem?
Dos rubores das maçãs?
Da mágoa do amor
que nunca é demais?
Sem se despedir, nem ser despedida
sozinha a correr acode as crianças,
olhem só, trá-las em braços,
mergulhando no fogo até aos joelhos,
levando o fulgor no cabelo revolto.
Ela, que queria comprar um bilhete,
sair da cidade por um tempo,
escrever uma carta,
abrir a janela após a trovoada,
trilhar o caminho aberto no bosque,
espantar-se com as formigas,
ver como o lago se enruga
com o sopro do vento.
Um minuto de silêncio pelos mortos
perdura às vezes pela noite fora.
Sou testemunha ocular
do voo das nuvens e dos pássaros,
ouço a relva crescer
e sei como ela se chama,
decifrei milhões
de caracteres impressos,
segui com o telescópio
estrelas bizarras,
só que até hoje
ninguém me pediu socorro
e se acaso lamento
uma folha, um vestido, um poema –
De nós próprios só sabemos,
o que nos foi posto à prova.
É isto o que eu vos digo
deste meu coração que desconheço.
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