Como devem ter percebido, quando tive a sulipampa, morava com a Margarida. Não éramos ricos, mas vivíamos bem (não éramos pobres) e éramos felizes – que considerávamos ser o mais importante. A classe média diz sempre isto, mas eu acho mesmo verdade. Éramos e somos. De outra forma, claro, mas somos. Foi toda uma aprendizagem, mas hoje podemos dizer que somos felizes – eu, pelo menos, posso (e ela acho que também).
Claro que a maldita impede algumas coisas que contribuem para a satisfação, mas, com o tempo, aprendemos a ser felizes com outras e com o que temos (outra banalidade da classe média que, pelo menos, numa coisa tem razão: a felicidade está fechada em casa: no amor à família). Ou, por outras palavras, como a grande maioria dos casais (pelo menos nisso somos iguais), acostumámo-nos. Nisso podemos ser iguais aos outros, mas há coisas em que somos muito diferentes: uma delas, uma das que mais gosto, é falarmos (ou comunicarmos, que eu, agora, pouco falo) imenso. Mesmo com as minhas limitações, provavelmente, falamos mais que alguns casais. Muito por culpa da Margarida – uma tagarela que, felizmente e para nosso bem, nunca se cala.